O cenário competitivo dos chips de inteligência artificial, até então amplamente dominado pela Nvidia, está prestes a passar por uma grande transformação. A Qualcomm anunciou uma entrada agressiva no mercado de data centers, mirando diretamente nas líderes Nvidia e AMD, o que levou a uma reação explosiva do mercado.
Nvidia: A Face Indiscutível da Revolução da IA
A Nvidia (NVDA) tornou-se o rosto indiscutível da revolução da inteligência artificial (IA), impulsionando tudo, desde o ChatGPT até a condução autônoma. Conhecida por suas GPUs de ponta e pela plataforma de software CUDA, que se tornou um padrão de indústria, a empresa viu suas ações atingirem máximas históricas, coroando-a como a empresa mais valiosa do mundo, com uma capitalização de mercado de US$ 4,5 trilhões. O otimismo foi reforçado esta semana quando o HSBC elevou a classificação da NVDA para “Compra”, aumentando seu preço-alvo para US$ 320 — o mais alto do mercado — uma projeção que, se concretizada, poderia levar seu valor de mercado a impressionantes US$ 8 trilhões.
Qualcomm Entra na Disputa e Ações Disparam
No entanto, essa hegemonia está sendo desafiada. As ações da Qualcomm (QCOM) dispararam mais de 20% na segunda-feira, após a empresa anunciar sua entrada agressiva no mercado de data centers com o lançamento de seus novos chips de IA, o AI200 e o AI250, além de ofertas de servidores em escala de rack. A medida coloca a Qualcomm em competição direta com gigantes como a própria Nvidia e a AMD, buscando conquistar uma fatia do multibilionário mercado de data centers.
A Estratégia de Lançamento e a Tecnologia NPU
O AI200, que nomeia tanto o acelerador de IA individual quanto o rack de servidor completo (equipado com uma CPU da Qualcomm), estará disponível a partir de 2026. O AI250, sua próxima geração, chegará em 2027, com um terceiro chip programado para 2028, seguindo o que a empresa promete ser uma cadência anual. A Qualcomm informou que seus chips AI200 e AI250 utilizam sua NPU (unidade de processamento neural) Hexagon personalizada, aplicando em grande escala no data center os aprendizados de seus processadores para PCs com Windows.
Foco na Inferência e no Custo Total de Propriedade
A Qualcomm está promovendo o Custo Total de Propriedade (TCO) de seus servidores como um diferencial chave, graças ao baixo consumo de energia. A empresa explica que os chips são projetados especificamente para inferência de IA – o processo de execução de modelos de IA, e não para o treinamento de novos modelos. O TCO tornou-se uma métrica crucial para os construtores de data centers que tentam conter os custos associados às suas enormes operações. A principal diferença técnica anunciada é que o AI250 oferecerá 10 vezes mais largura de banda de memória que o AI200.
Um Novo Modelo de Negócios e o Fantasma de 2017
Os clientes não precisarão comprar os servidores inteiros da Qualcomm. Segundo Durga Malladi, vice-presidente sênior da empresa, eles poderão escolher chips individuais, partes das ofertas de servidor ou a configuração completa. Malladi acrescentou que esses clientes podem incluir a própria Nvidia e a AMD, tornando-as rivais e parceiras em potencial. Esta não é a primeira tentativa da Qualcomm no mercado de data centers; uma investida em 2017 com a plataforma Centriq 2400 fracassou rapidamente devido à forte concorrência da Intel e AMD, além de problemas corporativos internos. A empresa também oferece o AI 100 Ultra, mas este é um cartão “drop-in”, enquanto os novos AI200 e AI250 são projetados para sistemas de IA dedicados.
Análise Técnica: O Fôlego da Nvidia
Enquanto a Qualcomm inicia sua ofensiva, as ações da Nvidia, embora ainda em alta de 39% no acumulado do ano e 75% nos últimos seis meses, mostram sinais técnicos de uma pausa. Em julho, o Índice de Força Relativa (RSI) de 14 dias flertava com 80, um sinal clássico de “sobrecompra”. Atualmente, o RSI caiu para cerca de 49, mostrando que o ímpeto diminuiu. O oscilador MACD envia sinais mistos, sugerindo que, embora os compradores (“bulls”) permaneçam no controle, eles estão provavelmente “recuperando o fôlego” enquanto os vendedores (“bears”) procuram uma abertura.