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Mercado em baixa após recordes: tensões políticas e incertezas econômicas pesam sobre Wall Street

Abertura negativa após máximas históricas

Os índices futuros das principais bolsas dos Estados Unidos registraram leve queda nesta terça-feira (1º), indicando um possível recuo após uma sequência de recordes nos últimos dias. A movimentação do mercado ocorre em meio a tensões em torno de negociações comerciais e da tramitação do novo pacote de gastos do presidente Donald Trump no Senado.

O futuro do S&P 500 (ES=F) caiu 0,2% após o índice encerrar a segunda-feira acima dos 6.200 pontos pela primeira vez. Já os contratos futuros do Dow Jones (YM=F) operaram próximos da estabilidade, enquanto o Nasdaq 100 (NQ=F), com forte presença do setor de tecnologia, recuou 0,2%, pressionado pela queda das ações da Tesla.

Tesla em queda com novo embate entre Musk e Trump

As ações da Tesla recuaram no pré-mercado após Trump sugerir, em publicação na rede Truth Social, que o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) investigue os subsídios recebidos pelas empresas de Elon Musk. A tensão cresceu após o CEO da montadora chamar o pacote de gastos de Trump de “insano e destrutivo”, declarando no X (antigo Twitter): “Estou literalmente dizendo: CORTEM TUDO. Agora.”

Avanço legislativo e impacto sobre o setor de tecnologia

Durante a madrugada, senadores continuaram votando emendas ao novo projeto orçamentário de Trump, com o objetivo de aprovar o texto até o prazo desejado pelo presidente, em 4 de julho. Uma das medidas aprovadas, com amplo apoio bipartidário, derruba a proibição de que estados regulem a inteligência artificial. A mudança representa uma derrota para grandes empresas de tecnologia, que tradicionalmente apoiam Trump.

Mudanças nos planos tarifários e pressão sobre acordos comerciais

De acordo com o Financial Times, o governo dos EUA está ajustando sua estratégia de “acordos recíprocos” com parceiros comerciais, buscando pactos mais restritos antes do reinício das tarifas mais abrangentes previsto para 9 de julho. A movimentação ocorre após o Canadá anunciar a retirada de sua proposta de imposto sobre serviços digitais, em tentativa de destravar as negociações com os EUA — um passo atrás que ocorreu logo após Trump afirmar que encerraria todas as conversas comerciais com o país vizinho.

Expectativas sobre os juros e discurso de Jerome Powell

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deve discursar ainda hoje no Fórum do Banco Central Europeu em Sintra, Portugal. O mercado acompanhará atentamente sua fala, especialmente após novos ataques de Trump exigindo um corte drástico na taxa básica de juros — de 5,25% para 1%, uma redução de 250 pontos-base. A possibilidade de flexibilização monetária reacendeu a esperança de estímulo à economia, especialmente em setores sensíveis a juros, como indústria e habitação.

Emprego e produção industrial no radar

Investidores também aguardam nesta semana a divulgação do relatório de empregos de junho, marcada para quinta-feira, e indicadores como o índice de gerentes de compras (PMI) da S&P Global, às 9h45, e o relatório do ISM sobre a atividade industrial, às 10h. Esses dados serão cruciais para avaliar a força do mercado de trabalho e os sinais de desaceleração econômica que poderiam reforçar os argumentos por cortes de juros.

Recuperação expressiva no segundo trimestre

Apesar do cenário de incertezas, os principais índices fecharam o segundo trimestre com ganhos robustos. O S&P 500 acumulou alta de 10,6% no período, enquanto o Nasdaq disparou quase 18%, refletindo a retomada após fortes perdas registradas em abril devido à política tarifária de Trump, que levou o índice próximo ao território de mercado em baixa.

Perspectivas para o segundo semestre

Mesmo com os índices em níveis recordes, analistas seguem otimistas quanto à continuidade do rali no segundo semestre. Mike Wilson, estrategista-chefe de ações dos EUA no Morgan Stanley, afirmou à CNBC que a expectativa de cortes de juros ainda neste ano pode impulsionar uma recuperação mais ampla. “Existe uma demanda reprimida significativa, especialmente em setores sensíveis a juros. Com o Fed agindo, podemos ver uma recuperação gradual e duradoura”, concluiu.

Assim, o mercado financeiro dos EUA entra na segunda metade de 2025 com sinais mistos: de um lado, os recordes e a recuperação sólida; do outro, as incertezas políticas e econômicas que continuam a exigir atenção redobrada dos investidores.