Nesta segunda-feira de agenda esvaziada e em uma semana mais curta devido a feriados, o mercado de títulos de dívida global opera sem grandes manchetes de impacto ou oscilações bruscas nas bolsas que justifiquem movimentos agressivos. Ainda assim, os bonds encontraram motivos para um rali sutil. Como os rendimentos já haviam tocado a parte inferior da faixa de negociação de novembro na última sexta-feira, as taxas atuais atingiram os menores níveis observados desde a reunião do Federal Reserve no final de outubro. Enquanto o cenário global aguarda dados econômicos de meados de dezembro para, quem sabe, romper o intervalo de negociação dos últimos três meses, investidores locais voltam suas atenções para uma oportunidade clara no Brasil: o Tesouro IPCA+.
O consenso sobre o ganho real
Em meio às divergências habituais entre gestores, analistas e alocadores sobre os rumos da economia, há um ponto de convergência que se sustenta há meses: dificilmente uma aplicação atrelada à inflação (NTN-B) com juros reais no patamar atual trará resultados negativos. Os títulos do Tesouro IPCA+ oferecem a devolução do principal acrescido da inflação medida pelo IPCA, somados a uma taxa prefixada que, consistentemente, tem se mantido acima de 6% ao ano. Na abertura dos negócios desta semana, os papéis ofereciam prêmios entre 6,06% e 6,12% além da inflação, variando conforme o vencimento.
A métrica histórica dos 6%
Para compreender se essa taxa é realmente atrativa, especialistas sugerem observar o histórico. Artur Wichmann, CIO da XP, ressalta que, estatisticamente, sempre que a NTN-B paga inflação mais 6%, as chances desse investimento superar o CDI em uma janela de dez anos são de 81%. Entretanto, essa oportunidade não é constante. Um levantamento da Quantum Finance aponta que, na última década, esses papéis ofereceram retornos reais iguais ou superiores a esse patamar em apenas 24,3% das sessões de negociação.
Riscos de liquidez e marcação a mercado
Embora os títulos públicos possuam boa liquidez e facilidade de venda antecipada, a estratégia de sair antes do vencimento exige cautela redobrada no cenário atual. Se as taxas de mercado estiverem superiores às do título adquirido, a transação resultará em prejuízo devido à marcação a mercado. Investidores que compraram títulos longos no início de abril e venderam no fim do mesmo mês, por exemplo, amargaram perdas de quase 4% devido à abertura da curva de juros. O Tesouro IPCA+ 2055, especificamente, registrou rentabilidade negativa acumulada de 3,86% naquele mês, o pior desempenho entre os disponíveis no Tesouro Direto.
Estratégia de prazos e volatilidade
Diante da recomendação de carregar o papel até o vencimento, a escolha do prazo torna-se crucial. Especialistas indicam preferência por vencimentos curtos e intermediários, até 2035, que entregam bons retornos com uma janela menor de volatilidade. Catherine Cruz, CIO da Integrity Wealth Management, aponta que o intervalo entre 2030 e 2035 consegue oferecer um prêmio interessante sem carregar o risco excessivo de duration (tempo que o investimento leva para devolver o valor aplicado) presente nos títulos mais longos. Já os papéis muito curtos podem sofrer estresse dependendo das expectativas sobre a atuação do Banco Central e o afrouxamento monetário.
Manutenção de posições e alternativas privadas
Para quem já possui NTN-Bs e aguardava uma queda nos juros para vender antecipadamente, a melhor opção no momento, segundo Kaique Fonseca, economista da A7 Capital, é segurar os títulos. A perspectiva de uma curva de juros em patamares melhores não se concretizou como o esperado, pois o cenário estrutural, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, mantém taxas em níveis restritivos.
Por fim, se o objetivo do investidor for estritamente renda fixa com proteção inflacionária, o mercado oferece opções além do Tesouro. Na renda fixa privada, que carrega uma dose adicional de risco de crédito, os retornos tendem a ser superiores. Levantamentos recentes do Itaú BBA indicam a existência de títulos de empresas com alta classificação de crédito (AA+ e AAA) pagando até 7,1% acima da inflação.